Áreas sob mais risco são justamente as mais ricas em biodiversidade, diz estudo.
Um estudo publicado na edição desta semana da prestigiosa revista científica americana "PNAS" traça um quadro sombrio para os ambientes do planeta no final deste século. Segundo a pesquisa, vastas regiões da Terra poderão estar tomadas por dois fenômenos igualmente aterradores no ano 2100: o surgimento de climas que não se parecem com nada que conhecemos hoje e o desaparecimento de climas típicos do mundo atual.
Como os chamados envelopes climáticos (as condições de temperatura, umidade e outras variáveis típicas de cada região) são essenciais para a manutenção dos ambientes naturais, isso significa que muitos deles poderão simplesmente sumir sem deixar vestígio -- levando consigo boa parte da diversidade de vida existente na Terra hoje.
O trabalho coordenado por John Williams, da Universidade de Wisconsin em Madison (Estados Unidos), envolve uma boa parcela de incertezas, tal como acontece com quase todas as projeções envolvendo a mudança climática global. Williams e seus colegas usaram como base o aquecimento previsto pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), órgão da ONU considerado a autoridade máxima no tema.
O IPCC usa uma série de cenários -- projeções para o futuro feitas com base em vários pressupostos, os principais envolvendo a quantidade de dióxido de carbono (o mais importante gás causador do aquecimento global) a ser lançada na atmosfera. Segundo o IPCC, o cenário mais otimista envolveria um aumento de cerca de 1,8 grau Celsius nas temperaturas médias globais, enquanto um dos mais pessimistas incluiria um aquecimento de 3,4 graus Celsius.
No novo estudo, os pesquisadores usaram simulações para ver o que aconteceria com os climas da Terra em cada um desses cenários. O resultado: no cenário mais pessimista, entre 12% e 39% do planeta abrigaria climas totalmente 'inéditos', enquanto entre 10% e 48% da Terra teriam regimes climáticos em fase de desaparecimento. No cenário mais pessimista, a fração estimada tanto para climas 'inéditos' quanto para climas em desaparecimento fica entre 4% e 20% da superfície terrestre.
Agora, a notícia realmente ruim: nas simulações, essas áreas em polvorosa correspondem justamente a regiões com altíssima biodiversidade. A Amazônia e a floresta tropical da Indonésia, por exemplo, estariam entre as regiões com climas sem nenhuma semelhança com os existentes hoje.
Pior ainda, as áreas com climas em fase de desaparecimento -- as áreas montanhosas dos Andes e da América Central, a África Oriental, a região no extremo sul da África -- correspondem quase sempre aos chamados "hotspots", as fatias da Terra com maior número de espécies ameaçadas por quilômetro quadrado. Toda essa riqueza poderia simplesmente sumir se ações rigorosas não forem tomadas para desacelerar o aquecimento.
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